terça-feira, 27 de setembro de 2011

From Switzerland

Desculpem pela demora e também pelo texto se esse estiver ruim. Me faz faltam a língua mãe e tempo.


Para aqueles que falam inglês:

http://www.youtube.com/watch?v=f_qhdPflUb8&feature=results_main&playnext=1&list=PL853B97E60C748A46

Para os que não, o vídeo mostra basicamente a autora de “Comer Rezar Amar“, Elizabeth Gilbert, descrevendo o “dilema do porco-espinho“ de Arthur Schopenhauer, que trata dos desafios da intimidade humana. Quando um grupo de porcos-espinhos, durante o frio, procura calor aproximando-se uns dos outros, eles se ferem com seus espinhos e não podem continuar juntos. Logo, se afastam. Mas sentem frio novamente, e, mais uma vez, se aproximam sem conseguir evitar a dor que causam aos outros de sua espécie. “Essa dança de intimidade“, como descreve a autora, mostra analogicamente a inevitabilidade da ocorrência de dano a ambas as partes que dela partilham, mas que relevam essa dor quando se encontram novamente sós. Aqueles que são capazes de geram o próprio calor, conseguem manter uma distância segura dos outros, o que não necessariamente significa viver uma vida de introversão ou isolação. Moderação é recomendada nos relacionamentos tanto para o melhor de si mesmo, quanto para o dos outros.

Soa fácil. No entanto acho que o destino da maioria dos seres humanos é ser espetado até a morte. Achar um equilíbrio nesse sentido é, muitas vezes, impossível. Acredito que somos tão atraídos pelo calor citado acima, que não levamos nada em conta senão o conforto que a proximidade nos oferece. Conforto o qual, como mostrado por Schopenhauer, se torna inevitavelmente em mágoa em algum momento. Criar um espaço de independência emocional é sem dúvida o jeito mais fácil de ser feliz. O certo (e também o difícil) é aceitar esse espaço como um intervalo necessário, e não como isolamento. Recentemente senti na pele a ignorância humana com relação a esse assunto. Embebido no aconchego da família e dos amigos, pelos quais fui espetado e os quais espetei durante meus dezoito anos de vida, senti o baque da solidão assim que pisei na sala de embarque do voo que me levaria para longe de todo o meu suporte e apoio que me proviam de asilo até então. Antes daquele momento, sem viver de fato apartado de todo esse amparo, não havia ainda compreendido o quão determinante no equilíbrio emocional de uma pessoa é a familiaridade. Fui abatido e abatido fiquei por alguns poucos dias que naquela situação me prostraram como meses prostrariam normalmente. Montei a incerteza sem escora e quase caí do cavalo. Assim como todos nós quase caímos ou quase cairemos uma vez na vida, todos por não possuir a sela apropriada. Com o tempo se estabiliza o animal. Faz-se novas amizades, vê-se que não se perderá as antigas. Encontra-se novos sustentos, mantêm-se também os velhos. Se reafirma a rotina, se confirma os hábitos e os costumes, e assim se reproduz novamente a vida. Com os mesmo laços de afeição recíproca e muitas vezes inocentemente mal medida, cedendo a todas as dependências em busca de balanço sem nos darmos conta de que o nosso equilíbrio tem de ser descoberto não nos outros, mas sim em nós mesmos. É isso o mais importante: além de amigos, de amores, de prazeres, seja responsável primeiro pelo próprio contentamento autônomo. É disso que agora estou constantemente em busca.


“A dor é inevitável, o sofrimento é opcional“ Carlos Drummond de Andrade