domingo, 26 de dezembro de 2010

Reflexão nas férias

Gostaria que, apesar do tamanho, talvez assustador, lessem. Nem que seja só esse.

As férias tem sido bastante improdutivas. Fiquei dias em casa privado de passa-tempos interessantes, o que, no começo, foi um alívio, e, no meio, um tédio. E já sei como será no final - não são as primeiras férias da minha vida. Certas desventuras aconteceram, mas nada na vida é só desgraça. Tive a sorte de ter a internet ao meu lado na hora de downloads importantes. Ela, porém, me virou as costas em outros muitos momentos. Quatro dias foram apenas tomados pelas drogas. As digitais, principalmente. Certo jogo, chamado Simcity 3000 (cujo objetivo é construir e administrar uma cidade), foi o principal responsável por me manter, obrigatoriamente, todo esse tempo em frente ao computador. Não foi nenhuma novidade. Eu o fazia muito há anos atras. Tenho, inclusive, a versão mais nova, Simcity 4, que oferece muito mais possibilidades, mas tinha uma ânsia por relembrar tempos remotos. Admito que o jogo mais antigo é muito mais... viciante, talvez por ser mais fácil. A maior cidade que ja fiz tinha 550 mil habitantes. Já na versão mais recente, o máximo que consegui foi 110 mil, com todo o território ocupado. A que me tomou os quatro dias está com cerca de 300 mil e inúmeros problemas de trânsito. Lamento que as auto-estradas e as complexas redes de trem e metrô não os tenham resolvido.

As férias tem sido até produtivas. Tenho pensado mais, em razão de ter feito menos. Certo dia pensei num poema que deveriam ter feito:

Modernidade

O tempo passa,
E nós corremos atrás.

Não seria maluco de fazê-lo. Espero que, um dia, alguém tenha coragem. Nesse momento, eu me permitiria uma auto-paródia:

Férias

Eu passo,
E o tempo corre atrás.

Sinto como se, certas vezes, o tempo se dilatasse, e, outras, se contraísse, independentemente da velocidade, como diria Einstein, mas devido a não sei o quê. Senti aqueles quatro dias passarem mais rápido do que nunca. Senti como se os tivesse perdido, mas após refletir percebi que os tinha ganhado. Ter o privilégio de poder não perceber o tempo passar é raro.

Almejo escrever letras para músicas, porém não tenho inspiração, nem talento. Acho que certos tipos de música ficam mais agradáveis de se ouvir quando munidos de poesia:

Procuram-se letristas.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

ponto de vista

É sempre no banho que brota uma idéia. Regando-me as sementes. Dessa vez pensei na morte, nosso indeclinável fim. Deprimi-me pensando que é essa nossa só convicção. Não por se tratar dela, mas por como dela tratamos. É brochante sabermos que a única certeza que temos em nossas vidas é algo que nos entristecerá se for com outros ou entristecerá os outros se for conosco. Não seria extremamente mais fácil se a considerássemos como algo bom, algo a se comemorar? Como uma nova fase da vida, e não como o fim dela. Como uma mudança de espírito, uma transcendência favorável. Felizes seríamos se considerássemos todas as coisas inevitáveis como positivas, sem passarmos assim por nenhuma mágoa natural.

sábado, 20 de novembro de 2010

Ta réponse

Quase me perco em meio a tantos hipérbatos. Agora, ao ponto, a existência de uma energia é inegável por conta da própria ciência. Ela mesma diz que foi tudo em razão da energia. A questão é se essa energia tem o poder de tomar alguma decisão. Mesmo que receba nomes e méritos, não é um ser racional. Nem é um ser, aliás. É energia. Era só o que me faltava, culparem-na por qualquer desgraça que nos aconteça. Não acredito que rezar para energias faça algum efeito. Não acredito, igualmente, que Deus e Alá designem tal energia, visto que são tomadores de decisões. Talvez, eu disse, talvez, exista algo superior, capaz de fazer escolhas, voluntária ou involuntariamente. Porém, sou mais favorável ao equilíbrio natural das coisas todas.

Já pensei o seguinte: existe um nível de equilíbro no mundo. Em relação a tudo. Exemplo, pra cada pessoa que fica feliz, uma fica triste. Pra cada coisa boa, acontece uma coisa ruim. Mas não necessariamente nessa proporção, de 1:1. Pode ser de 1:k, onde 0 < k < ... Não tem símbolo de infinito no teclado. De modo que k é inversamente proporcional ao nivel de desenvolvimento. No mundo perfeito, onde ele é máximo, k seria 0. Acho que a matematização é indevida. O que importa é que, quanto mais alto esse nível de equilíbrio, melhor. E ele é caoticamente variável, portanto indeterminável. E não se aplica estritamente ao mundo de uma forma geral, mas também a cada um. Para cada habilidade adquirida se perde alguma. Melhora de um lado, piora do outro. Só evoluimos como pessoa, melhoramos nossas vida se conseguirmos manter k<1. É claro que o nível de equilíbrio varia de pessoa para pessoa, de quesito para quesito.

Se a Grande Energia existe, não sabe administrar. Nem aquilo que ela própria criou. Pode ser que seja difícil para ela, já que são, provavelmente, muitos planetas com vida que espalhou pelo universo, e agora não consegue lidar com tanto. Enquanto isso, nos manda tempestades que nada mais fazem que encantar bobalhões. Quem sabe os problemas no planeta PDSJ27456T9W são muito mais graves que os nossos e necessitam de atenção especial. Aproveitanto o embalo nessa história de energia, convoco todos a rezarem para a Energia elétrica dos aparelhos domésticos não se dissiparem em forma de energia térmica, ou sonora, a fim de aumentarmos seu rendimento. Se rezam para a Energia criadora do universo, as outras pouco irão se importar em obedecer nossas preces.

Diminua a conta de luz rezando para a energia você também!

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

R.S.V.P.

Adoro uma crítica construtiva. É como um tapa na cara de um escritor maSoquista. Se é que posso me chamar de escritor, que de um mero blogueiro ocasional não passo. Mas rude pelo menos não sou, e rude não sendo não posso deixar de responder meu amigo Caio, meu parceiro "escritor" e, provavelmente, meu único leitor, quiçá fã. Mantenho, Caio, minha fé na personificação. Você mesmo, sendo o ateu que é, tem de concordar que apesar de todos os fatos que a ciência a nós proporciona, é inegável a existência de uma energia, aquela que gerou a "criação de matéria" e/ou a "explosão da singularidade". É à ela que rezam bilhões de pessoas, dirigindo-se uns à ela como "Deus", outros como "Alá". Eu me mantenho crendo que ela é a Natureza. A Mãe Natureza, que tendo criado Tudo, Tudo pode destruir.

É a nova moda, a ECO religião. =P

T.C.O., 7º da série

(continuação do anterior) Mãe essa irresponsável. Ou mazoquista. Mãe de certos filhos mal agradecidos, que com ela nada se importam. Se tais advertências funcionassem, não teríamos chegado a tal estágio de destruição. Por que elas foram dadas. Não acho que, hoje em dia, façam efeito. Em resposta, podemos desmatar todas as florestas, extinguir todas as espécies e pronto: liquidamos com a mãe natureza. Lembrando, inclusive, de poluir todos os mares e rios, de modo que uma revolução de peixes não estrague nosso plano maligno. Resumindo, podemos matar nossa mãe, mesmo que morramos junto. Aliás, fujamos para a lua. Ou para marte. E deixemos para trás as toxinas que, aos poucos, consumirão a vida restante do planeta. Portanto, mãe natureza, não nos venha com sermões e cala-bocas porque furacões e terremotos já não são pário para nós.

É evidente que não concordo com nada que escrevi logo acima. Como todo bom apreciador da natureza, contemplo, assim como o Gabriel, suas forças, embora discorde de sua personificação. Ora, natureza é o nome que designa o conjunto das coisas não produzidas pelo homem, incapaz de qualquer decisão. Não diria mãe de nada, mas fruto.

Acho que, por agora, me sentiria mais à vontade escrevendo poesia. Sinto, não sei por que (junto? acento?), necessidade de repetições, neologismos. Pena que não existe licensa prosaica. Se existe não é difundida. Nem conceituada como a poética. Como se trata, aqui, de algo mais particular que uma maldita dissertação de vestibular, posso pensar em tomar tais liberdades. Seria mais simples se, simplismente, abrisse mao de acentos e sinais graficos, que nao comprometem o entendimento da mensagem e, de bonus, tornam a escrita mais agradavel e menos trabalhosa: puro lucro. Mas não me sinto à vontade.

Partirei, meintenante, para aprender a viver. A aula de cavaquinho é às seis, e a de piano, às 7. Zeugma.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Agouê

É na tempestade que a natureza vê a oportunidade de mostrar toda a sua magnitude, seu poder. A incontestável beleza já tem ela afirmada todos os dias, ainda mais pelos cariocas. Tão freqüente são os episódios de deslumbre dos cidadãos do Rio, que tal beleza já chega ao ponto de ser chamada de banal e de não ser mais notada como deveria. Mas a tempestade é diferente. Por ser rara (falo das grandes, como a de hoje) chama sempre a atenção e gera, pelo menos em mim, os mais diversos sentimentos – fascinação, medo, liberdade, opressão. E paralela a tudo isso está sempre a presente epifania de que, na verdade, não somos nada em comparação com as forças naturais do planeta; de que essas poderiam, se quisessem, nos criar danos exacerbadamente maiores do que aqueles que causamos. Entendo todos esses trovões que assombram hoje a cidade maravilhosa como um ensurdecedor “cala boca” à arrogância e à prepotência já crescentes do homem. É, de fato, como uma relação entre um filho mimado e uma mãe carinhosa, que agrada mas que repreende quando necessário. E é, já, necessário.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Dúvida Fetal

Vide primeiro "Dúvida Fatal", logo abaixo.

Volta e meia me pego pensando em como seria - seria não, como teria sido - o momento do aborto. Quero dizer o exato momento, aquele da dolorosa última espetada. Isso se se morre se de aborto induzido, que se disso não se for, não se sabe se do que se abortará, não se é premeditado se. Mas pensemos que de qualquer instrumento afiado seja. Imaginem o segundo que precede TODA a gestação da sua mãe e que antecede a sua "morte". É você que a ele se entrega ou é ele que te consome? Qual será o sentimento (o primeiro e único que sentiremos)? De relutância, frustração, tristeza, sucção? Ou de alívio, tobogã, conformidade, felicidade por ter completado todo o desenvolvimento embrionário? Será que dói? =S Quem vai saber? (nem chegou a nascer)

Apenas mais uma dúvida angustiante de uma manhã ociosa...

sábado, 4 de setembro de 2010

Dúvida Fatal

Volta e meia me pego pensando em como seria – seria não, como será – o momento da morte. Quero dizer o exato momento, aquele do famoso último suspiro. Isso se se morre de doença ou velhice, que se de nenhuma das duas for não se sabe que se morrerá, não é premeditado. Mas pensemos que de qualquer uma das duas seja. Imaginem o segundo que precede TODA a sua vida e que antecede a sua morte. É você que a ele se entrega ou é ele que te consome? Qual será o sentimento (o último de todos que sentiremos)? De relutância, frustração, tristeza? Ou de alívio, conformidade, felicidade por ter completado todo o ciclo? Será que dói? =S Quem vai saber...

Apenas mais uma dúvida angustiante de uma manhã ociosa...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Enquete 1

São essas tragédias que acontecem com figuras públicas, às quais temos acesso, que deixam todos chocados. O sofrimento de uma mãe que perde um filho é incomensurável, eu suponho. E aquele sofrimento daquela única mãe, aperta o coração de todas as outras que lamentam em coro “Essa não é a ordem natural da vida”, “Uma mãe nunca poderia velar um filho”. Ora, posso estar falando uma grande besteira, até porque não tenho um filho, apenas uma mãe, mas será mesmo maior o amor que uma mãe sente pelo filho do que um filho pela mãe? Qual o tamanho da diferença entre uma mãe ver um filho partir e vice-versa? Sofrem elas mais do que nós?

Não estou criticando as mães dos corações apertados. Estou simplesmente (e realmente) fazendo uma pergunta. Por favor, aquelas que filhas são e filhos têm, me respondam.

Obrigado.

Post Informal

Maldito seja o solstício de inverno e a inclinação do sol em relação ao equador. O lado bom do inverno é o frio. O ruim é o sol. Ele não incomoda na primevera nem no outono. Maldito seja também o soltício de verão e a inclinação do sol em relação ao equador. Calor dos infernos. Não sei qual dos dois é pior. Acho que o de verão...

O de inverno só incomoda de tarde, quando o sol passa DE LADO no céu (o que que dá na cabeça dele??) e esquenta a sala inteeeeira. Por isso que é bom ter apartamentos virados pro sul. Ou cortinas. Não persianas, porque sempre deixam fendas. A não ser que sejam persianas horizontais, aí tudo bem.

Há duas coisas boas que só se faz nas férias: dormir tarde, acordar na hora do almoço e almoçar; e dormir tarde, acordar na hora do almoço, tomar café da manhã e almoçar 5 horas. Pequenos prazeres da vida. Não ter aula é só um detalhe. Comer bolo de chocolate na casa da vovó também é um ponto importante. Assim como ter o dia inteiro para as coisas que eu quero fazer.

[Pausa para Toddy]

O problema de Guarapari são os prédios. Ainda lembro de quando tinha paisagem... Daí foram construindo prédios e prédios e agora a paisagem se reduziu à metade do que era. Pelo menos a cidade cresce. Daqui a pouco chega um Bob's pra fazer o povo feliz. O problema de investir em Guarapari é que a cidade fica absolutamente deserta dez meses por ano. Só dá muita gente no verão e um pouquinho no inverno.

Falando em problema, por que pessoas com idade (mental) inferior a doze anos gostam de Justin Bieber?

Saída emergencial.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Certeza do Alto

É do alto o melhor ângulo do Rio. Da janela do avião chegando ao aeroporto. Ainda mais se for à tarde, com o céu azul claro pincelado de vermelho, com umas poucas nuvens. Os contornos perfeitos das montanhas delimitados pelo mar. São essas visões, esses momentos de contemplação, que me mostram o tamanho da sorte de alguém que nasceu e que mora nessa cidade, que apesar de tudo, sempre foi e continua sendo mais que maravilhosa. São esses momentos que calcam a certeza de que vale muito a pena viver.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Metáfora

De vez em quando eu penso metaforicamente. Eu acho que grupos de pessoas são planos. E qualquer discórdia, desentendimento ou confusão entre os membros do grupo representa uma perturbação no plano. As ondas assim causadas são as instabilidades decorrentes do fato. Se o grupo for consistente, significa que o meio é dispersivo, ou seja: qualquer perturbação provocará ondas que logo se desfarão. Caso contrário, o meio será pouco dispersivo, e as ondas se propagarão até Deus sabe onde/quando.

Sei lá, mas pra mim faz todo sentido.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Outro daqueles

Parece que este é daqueles que demoram
Que não querem sair, mas que precisam fazê-lo
Que a mão do que os criam não deixam
Mão de onde jorrava criatividade
E que de onde agora não pinga uma só gota dela
Daqueles que angustiam o cidadão que só assim sabe se expressar
Mas que mesmo assim, certa vezes, como esta, não consegue
Culpa deles
Desses que custam

E que se não são algo que preste
Que sejam apenas uma metalinguagem

quinta-feira, 1 de julho de 2010

T.C.O., 6º da série

Contradição é a palavra chave. Chave para tudo. Chave para a inteligência, o desenvolvimento, as atitudes, a gradação, a vida. Me encontro, inusitadamente, em tempos de contradição. Tempos de ambiguidade, de dilema. Nenhuma atitude que precise tomar, somente pensamentos que preciso pensar. Os exércitos de neurônios travam uma árdua batalha, e eu só posso esperar pelo vencedor. Não creio que a situação apresente consequências no plano externo, mas a resposta para qualquer pergunta sobre mim mesmo será, provavelmente, "não sei".

E o que se faz quando se chega ao ponto de não saber inclusive o que quer? Não queira.

Na realidade, a grande dúvida permanece a mesma desde o terremoto psíquico: lamentar por ter acabado ou agradecer por ter começado? Existe a possibilidade de coexistência de ambas as opiniões? Eu, em estado sóbrio de mente, responderia que sim, obviamente. Me surpreendo, hoje, por não saber a resposta. Pois é: embebedaram a minha mente.

Só espero que não fique de ressaca.

sábado, 26 de junho de 2010

Cigana sorrindo

Da cor dos dentes cuja boca traga a fumaça
Brilha a Lua
Sorriso amarelo que prende e seduz
Sorriso cigano, oblíquo e dissimulado
Numa circunferência perfeita
Ilumina mais uma noite morna de um junho carioca
Aquece mais uma noite de falso inverno
E abrem-se e fecham-se as cortinas das núvens
Plúmbeas e densas
Ofuscando e revelando Sua luz branca
Aquela que engana
Sombreia de leve

De leve encanta

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Diário de um viajante

(imaginem...vale a pena)

Sobre o desértico Atlântico
Sem a companhia do Sol ou das Nuvens
Penduram-se as estrelas

Estáticas
Deslumbrantes

E num dançar imóvel
Como todos os outros que pelas janelas olhavam
Me perdi

Estáticas
Deslumbrantes

E por um instante, em mais nada pensei
Apenas olhei
Minha alma e as estrelas

Estáticas
Deslumbrantes

E deslumbrado fiquei

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O Fumante

O homem do cigarro,
Sentado no carro.

Janela e cano de descarga
Não se diferencia mais.
Mas o fumante, coitado,
Ignora, alienado.
Mal sabe o resultado:

O homem do cigarro
Sentado no carro
Pulmões de barro (implicam:)
Cinzas no jarro.

Ou simplesmente no cinzeiro...



Algo me diz que as pessoas não vão gostar disso, não sei por quê. Só espero que seja engano meu.

sábado, 5 de junho de 2010

Reflexão

-Defina tempo.
-

terça-feira, 1 de junho de 2010

Agonia do hoje

O dia da agonia é todo o dia. É hoje. Foi o hoje anterior. E o hoje antes desse. E o seguinte. E o passado. E desses hojes não saímos. Nunca. Pois pelo ontem nunca passamos, e no amanhã nunca chegaremos. É só hoje. Sempre. Agonia desse hoje que não acaba. Desse hoje em que nascemos, em que vivemos, em que morreremos. E o tão sonhado amanhã, nunca. O amanhã em que as coisas não mais serão as mesmas, nunca. O amanhã que não é hoje, nunca.
Sempre, sempre hoje.
E a agonia do ontem com o qual nos iludimos por ter vivido em outro dia. Conversa apenas. Quando foi, foi hoje também.
Sempre, sempre hoje.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Monólogo do Rato

Estou sobre chão, entre paredes, sob o teto, ante a porta. Abro-a. Caio. Caio. Caio e chego ao chão: o mesmo chão de antes.

Me recupero, estou novamente sobre o mesmo chão, entre as mesmas paredes, sob o mesmo teto, ante a mesma porta. Me pergunto sobre o mistério da porta. Abro-a novamente. Caio. Caio. Caio e volto ao mesmo chão.

Olho atrás, nada. Olho para cima, nada. Estou perdido. Encaro mais a porta. Abro lentamente, quando chego na metade, caio. Caio. Caio e volto ao mesmo chão. Doeu mais! Um rato!!

O rato é a minha salvação! Caço e ele se esgueira. Prendo o rabo ao chão e pego! Súbito clarão e ele some. Recorro à porta. Abro-a. Caio. Caio. Caio e bato ainda com mais força naquele mesmo chão! Procuro o rato. Acho.

Resolvo observar o seu comportamento. Ele caminha sem rumo, durante um bom tempo. Até que percebo que me nota e vem na minha direção. O rato me dará a salvação. Me cheira, me toca: súbito clarão e ele some.

Se eu caio e chego ao chão, tenho que passar pelo teto. Como chegar ao teto? Droga! Só tenho a porta. Lá vou eu, imaginando qual o mistério da porta. Abro-a e espero. Ela se fecha. Abro-a e olho atrás. Nada. Pulo. Caio. Caio. Caio e me estabaco no maldito chão! O maldito rato continua indo a lugar nenhum, fuçando os cantos a troco da nada.

Os cantos.... Vou fuçar também. Tem um rodapé. Toco e a luz se apaga. Que luz? Ela volta. Toco na parede. Ai! Tombo.

Me recomponho. Estou sobre a parede, entre paredes, sob outra parede, ante o chão. Olho atrás, o teto. O rato no chão, a porta do lado, de lado. Tenho acesso ao teto!!! Toco no teto, caio no chão.
Toco na parede: nada. Toco no rato, ele some. Porta? Única opção.

Tenho agora hematomas. Toco na parede. Estou sobre a parede. O rato perambula: me irrita. Toco no rato, ele some. Minha visão já cansa dos clarões.Toco no rodapé, a luz se apaga. Toco no teto. Estou sobre o teto, entre paredes, sob o chão, ante a porta invertida. Abro-a. Caio. Caio. Caio, espero pelo pior e acabo na cama.

Minha cama aconchegante, tudo não passou de um sonho. Espreguiço, o clarão do dia me ofusca a visão. Procuro a porta com o tato, abro-a, tropeço no rato, caio sobre o rodapé e a luz se apaga.

Acende, me levanto: estou sobre o chão, entre paredes, sob o teto, ante a porta. Me parece familiar, aonde será que ela dá?

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Metalinguagem

Comemoro o novo gransiosíssimo surto de popularidade do site (dois novos adeptos). Me fez recordar a trajetória do blog pelos anos. Lembro que, no início, Thiago era tão participativo quanto eu, senão mais. Nossa intenção era voltada para assuntos mais particulares, que quem não nos conhecia não entenderia. Em algum momento, ele, aleatoriamente, decidiu mudar a fachada do nosso blog, o que impossibilitou os numerosos fãs de mostrarem sua calorosa apreciação por meio dos comentários. Voltamos ao modelo antigo. Devo ressaltar que, nessa passagem para o "novo estágio", algumas postagens minhas foram, talvez justamente, deletadas. A partir de um ponto indefinido, comecei a tratar dos problemas (ou satisfações) pessoais de um modo geral, com textos voltados para qualquer coisa que leia, não mais só os próximos.

Lembrei-me subitamente da minha passada obcessão pelo crepúsculo. Ainda tenho um certo fascínio, só não tenho vontade de escrever.

Sobre a ultima sequência desgraçada devo fazer alguns comentários. Diferentemente de algumas semanas atrás, tenho agora algum respeito pelo movimento modernista. Tal absurdo (pra quem assistiu às minhas aulas de português), se deve a uma conversa que tive com um sábio:
-Pai, você gosta do modernismo?
A resposta foi positiva e relacionada a poemas-piada, poemas livres e afins. Quando expus minha opinião oposta, fui recebido com:
-Por quê? Você não gostou de Manuel Bandeira??
-Eu não vi muita coisa dele.
-Eu considero ele um dos melhores poetas brasileiros, senão o melhor!
Depois de indagar o porquê e ouvir uma análise superficial de sua obra, veio a primeira frase que me desviou um pouco a opinião a favor do modernismo:
-Fazer poemas livres é muito mais difícil que fazer poemas rimados.
-Não!!!! Por quê????
A segunda frase:
-É preciso se conhecer muito de rima e de métrica para fazer um poema livre.
Em sequência, a terceira:
-A poesia precisa de um...... ritmo, e você dar isso sem rimas é muito mais difícil.

Tais palavras, vindas da boca de um poeta, significam um tanto.
Encerro a retrospectiva/explicação.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Sequência desgraçada de poemas modernistas que qualquer ser humano é capaz de fazer

Como não tenho leitores com menos de dez anos, libero o uso de palavrões. Não que eu realmente os vá usar...

O gramático

Todos discutiam
O cara chegou
E disse
"fodam-se".


Twitter

Alguém que não fazia nada da vida
Imaginava se todos eram assim.
A única coisa que fez na vida
Foi um site.


Irene no céu

Irene branquela
Irene idiota
Irene sempre rodando bolsinha

Imagino-a entrando no céu
- Foda-se, seu preto
E São Pedro bonachão
Nem reparou pois ouvia heavy metal.


Aula de português

Passei a vida imaginando
o que se precisa ter
para ser um poeta.

Vocabulário...
Sensibilidade...
Criatividade...
Genialidade...

Aprendi que se precisa ter
Uma mão.


Dedico-os a dona Fátima.

sábado, 24 de abril de 2010

Prazer

Após férias intermináveis, resolvo fingir que não negligencio meu (quase não mais do Thiago) blog. Tive algumas ideias, mas não desenvolvi nenhuma. Em breve virão ao conhecimento de todos os leitores (se é que resta algum).

Prazer é uma palavra, pra mim, sem definição convincente: 1 Alegria, contentamento, júbilo. 2 Deleite, gosto, satisfação, sensação agradável. 3 Boa vontade; agrado. 4 Distração, divertimento. Discordo de tudo. O que define uma atividade prazeroza não é necessariamente o que ela proporciona enquanto é executada, e sim, necessariamente, a vontade, necessidade que ela nos causa de repeti-la. Não se gosta de chocolate, necessariamente, porque enquanto se come chocolate se sente alegria, contentamento, júbilo, deleite, gosto, satisfação, agrado, seja o que for, mas sim porque depois de comer chocolate, se sonha em repetir a ação.

O "necessariamente" se explica pelas excessões: é claro que em determinadas ocasiões gostamos do que estamos fazendo e obrigatoriamente quereremos fazer de novo. Essas excessões seriam absolutamente prazerosas, logo raras. Prazer absoluto é sublime. Prazer comum é ordinário. São antônimos.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Carta depressiva

Sou um nada. Sou só mais um. Aliás, só menos um. Sou o lixo tóxico da humanidade, o resto do resto do resto de um projeto de ser humano.

Mais insignificante que o estrume de teu cachorro, que um fio de teu cabelo, que um ponto no plano cartesiano. E não um ponto que é solução de equação, nem um do eixo x, nem do y. Não chego a ser nem um daqueles que são tomados como exemplo aleatório de coordenadas. Sou o ponto esquecido, ignorado, remoto, que nunca será olhado. Sou o lixo tóxico da humanidade.

Sou o mau amigo, a ovelha negra da família, a vergonha da sociedade. Mais indesejável que a barata que te sobe a perna, que o terremoto que te destrói a casa, que o tapa em tua cara. Sou o cisco no teu olho, a artrose em teu joelho, a catapora em tua pele. Mais odiado que o diabo pela religião, que o golfinho pelo tubarão, que os judeus por Hitler. Sou o lixo tóxico da humanidade.

Sou o esquecido, o incompetente, que para nada serve, que ninguém ajuda, que não conhece boa ação. Sou o início do fim do mundo. Aquele que merece ser sacrificado, morto, apredejado. Aquele que não faria nada melhor do que sumir para sempre. Sou a pedra no meio do caminho da sociedade, sou o atraso do desenvolvimento. Se a alguém causa inda pena a minha chaga, esse alguém sou eu. Desprovido de compaixão, de solidariedade, sou o lixo tóxico da sociedade. O resto do resto do resto de um projeto de mau ser humano.

Sou por ti odiado, mesmo que não saibas, pois motivos para não o fazer, não há. Sou a mosca da sopa, a gravidez indesejada, a frigidez, o aborto. Sou a causa de todos os teus maus, todas as tuas falhas. Minha existência atrapalha tudo e todos. Sou o erro da natureza, o errante da natureza! O escarrado e apredejado, o ignorado, despercedibo, o crucificado, o indesejado, o insuportável, o anti-ético, o fora-da-lei, e incontestavelmente com razão. Sou o resto do resto de um projeto de lixo tóxico da sociedade.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

T. C. O., 5º da série

Divago hoje sobre as desilusões. Sejam elas as piores, ou mais suportáveis, as mais banais, ou as mais marcantes. Afirmo, pois, que desilusão boa não existe. E que as piores são justamente as mais banais. Menos dói ser deixado por um grande amor do que observar que o trajeto da sacola plástica flutuante não correspondeu às expectativas. Há, de certo modo, um grande preparo para as grandes desilusões, o que torna grande as pequenas. Fim de semana importante, grande festa ao ar livre agendada, e chuva. Todos sempre tiveram consciência dessa possibilidade. Todos ficam desiludidos por fora, reclamam, xingam, lamentam, mas por dentro há total conforto. Relacionamento importante, grande festa ao ar livre agendada, e fim. Ambos sempre tiveram consciência dessa possibilidade. Ambos ficam desiludidos por fora, reclamam, xingam, lamentam, (ou pelo menos um, o outro fica desiludido por baixo da pele) mas por dentro (lá dentro) há total conforto.

Não se valoriza as situações cotidianas! Computador importante, grande carregamento de página agendado, e demora. Todos sempre tiveram consciência dessa possibilidade, mas não aqueles que a isso não estão acostumados. Nestes a ferida é maior do que aquela do fim de semana, do relacionamento. Costume é a chave. O costume nos cria ilusões que ao serem desfeitas, desfazem parte da alma.

Já pude pensar que personalidades são determinadas por grandes acontecimentos. Percebo hoje que estes apenas despersonalizam aquilo que o cotidiano teve o trabalho de personalizar. A rotina faz o ser humano. Aquilo que dela se exclui, o desfaz. A rotina desgasta o ser humano. Aquilo que dela se exclui, o gasta. Uma quebra inesperada da rotina determinante, acaba por indeterminar. Exatamente aquilo que a não-rotina é encarregada de fazer. Ela, por sua vez, quando outros rumos toma, acaba por determinar.

As grandes desilusões nos põe nos eixos, deveríamos agradecer, não lamentar. Mas sim lamentar pela mensagem não recebida, pela partitura que cai no chão, pelo desafino. E o coração que bate nestes peitos, que continue, como sempre, a rotinar as não-rotinas, a transformar em pequenas as grandes desilusões, a rotiná-las e finalmente tornar insuportável a sensação de não tê-las.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A grande diferença entre a gente

Existem quatro tipos de pessoas, segundo os dois seguintes critérios:

Primeiro:
Existem as pessoas que ouvem a música até o final.
E as que mudam para a próxima no meio.

Segundo:
Existem as pessoas que olham para o céu estrelado e pensam: "Amanhã vai dar sol."
E as que olham para o céu azul ensolarado e pensam: "Hoje à noite vai ter estrelas."

Nada mais a declarar. Também nada há que diferencie melhor as pessoas.