quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

esboço positivo


Não há remédio àqueles que sofrem da peste da angustia crônica. Da incerteza esporádica, da aflição companheira. A das visitas ocasionais, nas quais entra sem bater e senta gorda ao coração com um sorriso arrogante na cara. Sorriso de quem sabe ter submissos a si nós, os angustiados. Quando se nasce assim acostuma-se com o tempo. A indecisão vira um vício, uma mania ociosa. O sintoma é um só: o questionamento. De tudo. E sem ter como objetivo obter uma resposta. É essa falta de rumo que nos assombra. Minto; não falta de rumo, mas o excesso deles. Aí se enobrece o desespero. Todos os cálculos que antecedem uma decisão tentando antecipar as suas conseqüências, todo o esforço para evitar o arrependimento (porque para os que nesse caem, coitados, não há saída) e ainda de novo a dúvida entre continuar no infortúnio medíocre ou se arriscar na tentativa de uma guinada rumo à ventura. Ah!, a guinada. Vestida na pele de cordeiro, na qual tantos se perdem. Olha aí outro medo. É a romaria nossa, acostumados ao penar da sensação. Aos quais o violento sopro da realidade bate mais gélido. A quem de supetão a vida exibe, sem juízo nem precedente, as consistentes tetas, às quais não se tem reação e fica se pensando no que fazer. Há quem diga “as agarre!”. Eu diria também. Viveríamos num bacanal caótico, “sem guerra e sem glória”, animais felizes, como Deus criou. Mas o que o humano uniu, o homem não separa. E assim se segue, procurando algo ou alguém temporário que aquiete o espírito em meio a essa moral de rebanho, onde morrem e nascem os trabalhadores, os artistas e as putas.