terça-feira, 31 de maio de 2011

Tempos Áureos

E se anuncia o início de tempos áureos, como não são há muito tempo. Há muitos tempos ainda por vir, só questão de tempo. Que estão querendo dizer miocárdio e seus adjacentes, se fazendo sentir tão forte? Tensões da vida que se sentem nos tendões. O frio da barriga que escorre pelo suor. Doces angústias da vida, que as aproveitemos enquanto podemos. Logo aqueles tempos áureos as levarão embora, mas devagar para que não percebamos. Certa crueldade, mas evita o susto.. às vezes. O que importa é quando as incertezas emergem para nos afogar. O lado plúmbico dos tempos áureos. Que traz também as expectativas impossíveis, e os tapas na cara. E sobra tudo sempre para o pobre do miocárdio. Mas que venham esses tempos áureos que estou a sua espera.
Que os tantos suspiros os consigam manter aqui um pouquinho mais.

sábado, 28 de maio de 2011

Música eletrônica

Ontem tive a oportunidade de "apreciar" devidamente a música eletrônica. Já não gostava, mas dessa vez prestei um pouco mais de atenção que o normal. Se um dia disse ao Thiago, fielmente anti-música-eletrônica, que "tem algumas que são legaizinhas", retiro o que disse. Bem, à análise.

Nunca tinha reparado como este tipo de música é tão pobre. Em 90% das músicas, se destacam dois ou três elementos principais: a percussão, o sintetizador e a voz, caso haja. Comentemos cada um, a começar pela percussão. Por se tratar de um ritmo reto, ou seja, notas principais em tempos fortes, ela deixa a desejar. Ao fato de o ritmo se manter constante durante toda a musica e de as viradas serem sempre as mesmas, soma-se o de que muitas das vezes o bumbo, que contém o grave, já é afinado de acordo com a música, o que elimina a necessidade de um baixo. Quanto ao sintetizador, é igualmente decepcionante. Constatei que, ao contrário do que pensava, a música eletrônica comercial tem as harmonias mais pobres e simples de todos os tempos, vencendo até da música pop. Prefere-se usar um som apenas à combinação infinita que permite o sintetizador, além de manter um, dois, três ou, quando muito, quatro acordes durante a música inteira, sempre, claro, na mesma ordem. A parte vocal nem se comenta, auto-tune propositalmente descarado.

Resumindo, as regras da música eletrônica são: criatividade proibida, tudo o mais fácil possível e qualquer um pode fazer, basta ter dinheiro e aqueles equipamentos fodões que fazem tudo pra você, frisando que também é proibido saber qualquer coisa sobre música. Quando a gente vê que esse tipo de... coisa faz mais sucesso que infinitos gêneros de música BOA, dá até vontade de chorar. Finalizando, a todos que já me disseram "Não tem que ouvir a música, tem que sentiiir!!", respondo:
"FOI MAL, MAS EU NÃO CONSIGO SENTIR ESSA MERDA!!!".

Deixo claro que tratei aqui do tipo mais comercial de música eletrônica, pois reconheço que dentro dela há muito de bom, que obviamente não faz sucesso.

E que se exploda toda a música eletrônica!!!

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Ensaio sobre o Prozac


“Essa animalização do homem em bicho-anão de direitos e exigências iguais é possível, não há dúvida! Quem já refletiu nessa possibilidade até o fim conhece um nojo a mais que os outros homens – e também, talvez, uma nova tarefa!”.


Friedrich Nietzsche (1844-1900)




Desculpem-nos pela seca, mas escrever pra mim é uma arte. Não se faz nas coxas, apenas pela necessidade de se fazê-la. É preciso inspiração, informação, vocabulário. E depois de isso tudo ainda é necessário um impulso, um incentivo, um estímulo quase que nervoso. O meu hoje foi o filme O Casamento do Meu Melhor Amigo. Angustia-me ver o blog assim, vivendo das carcaças de textos passados. Há dias queria postar algo, e minha aula de filosofia é a fonte, me enchendo de idéias e dúvidas. Já obtinha a essência, faltava-me o corpo. Até que assisti os 100 minutos de Julia Roberts como Julianne Potter. Ver os atos desesperados praticados por ela por receio de perder a chance de se casar com o homem de seus sonhos, chance a qual se mostrou diversas outras vezes, mas que nunca fora aproveitada; me fez pensar sobre o quão necessário é para nós que alcancemos nossa concepção de felicidade. Pois digo logo, para mim, essa concepção, na maioria das vezes, seja lá qual for ela, está errada. Esforçar-se para achar felicidade já apresenta um paradoxo. O que é estar “em busca da felicidade”? O sentido da vida? Uma perda de tempo? Chegando agora ao fim do semestre tive a oportunidade de estudar Friedrich Nietzsche e de nele encontrar o filósofo com que eu mais me identifico. É exatamente sua questão do “último homem VS. super-homem” que tento exemplificar aqui. No final do filme, Jules recebe a lição do amigo: “What the hell? Life goes on. Maybe there won't be marriage. Maybe there won't be sex. But by God, there will be dancing!”. E a partir desse momento ambos saem dançando e desconstruindo o paradigma do pavor de viver uma vida coadjuvante. Concentramo-nos tanto em obter sucesso em todos os aspectos e a todas as custas que não percebemos que sucesso é viver a vida como ela é. É como diz o alemão: errado é tentar entender a Verdade para lastrear uma conduta de vida. A Verdade que tanto buscamos é uma invenção nossa, um anestésico que mascara nossa incapacidade de aceitar que o único e exclusivo sentido da vida é vivê-la. E que só assim ela faz sentido. Vou ainda em sua aba quando ele dá o exemplo de Deus: o que virou ele afinal senão o fetiche da realização de nossos próprios desejos? Acreditamos, pois nos forçamos a isso, por medo de não o fazer. Moralizamos essa figura divina dando a ela uma conotação utópica para dela nos aproveitarmos como ferramenta de alcance de interesses próprios. Deus tornou-se um antidepressivo. É como já dizem alguns títulos criativos “Mais Platão, Menos Prozac!”. É essa, hoje em dia, a principal rota de fuga da clareira que Nietzsche abriu: nada melhor que um comprimido de Lexotan ou uma dose de ‘branquinha’ para matar a aflição de não saber o que fazer com a vida. Ora, não faça nada! Não se deve fazer algo COM ela, mas sim DELA. Chegamos a tal grau de niilismo e superfluidade que inventamos as mais diversas válvulas de escape do questionamento do nosso papel nesse mundo. Não temos papel nenhum! Essa ‘moral de rebanho’ em que vivemos é inútil, serve apenas para nos impedir de vivermos do nosso jeito, apropriado e conveniente a cada um de nós, exclusiva e unicamente, completamente livre de preconceitos, censura, desaprovação, dominação, falso pudor, e todas as outras ‘virtudes’ que adquirimos com o desenrolar dos séculos. Paremos de nos inquietar tanto com a definição da razão de nossa existência. Façamos o que queremos: tenhamos amigos, amemos, falemos bobagens, andemos descalços, experimentemos tudo, burlemos as leis (escondidos), sejamos cafonas como estou sendo agora... O crucial é, como diz o filósofo baiano Sir Caetano, saber a dor e a delícia de ser o que é. No mínimo, tenho certeza, there will be dancing.