segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Primeiro dia de faculdade


Outros agora vêm viver aquilo que uma vez já foi novo para mim. Conheço as suas incertezas, conheço os seus estranhos. Afligiram-me igualmente.  Senti o sopro do medo que agora os persegue, a pressa da excitação que agora os afoba. Já mirei a profundeza do abismo em que se salta ao desconhecido. Também já uma vez saltei como hoje eles saltam, sem garantias. Mas aquela era a hora que eu havia esperado por longo tempo e aquele era meu salto, meu destino. Destino que agora é vivido por outros. Vivem minha vida sem mesmo pedir licença. Vão vivendo sem permissão. É só então que percebo: aquela não é minha vida e também não é a deles. Aquela é apenas a ordem natural das pessoas. Perco o ar e me entristeço profundamente. No meio de tanta gente já não tenho mais lugar. O que pareceu ser minha história é agora a vez de outro. Esses terão também seu lugar tomado, mas isso agora ainda não sabem e não calha saber. Agora é o seu momento. Na cegueira de tanta gente eu fico abandonado de olhos abertos. Mas na multidão alienada ainda vejo alguns cujo sentimento finalmente entendo. Atrás dos heróis que nunca serão tão jovens como hoje seguem seus pais. Incessantes e orgulhosos, todos trazem consigo, finalmente vejo, um aperto no coração. Vencidos pela tal ordem da vida deixam seus filhos sozinhos pela primeira vez numa cerimônia despercebida. Não há tempo a se notar a alegria melancólica nos olhos daqueles que hoje cumpriram uma missão. Há muito a se viver e ninguém olha para trás. Mas saibam, pais de pais, que um dia todos percebemos que a ordem da vida é linda, mas por vezes muito triste. Hoje para mim foi mais um primeiro dia que tantos outros também viverão. O dia em que me dei conta de que todos dividimos destinos e descobertas, mas que nossos pais serão sempre só nossos. 

Gabriel Abreu

domingo, 2 de fevereiro de 2014

meninada


Meninos que com ferro ferem
Meninas a mulheres:
Permiti também com ferro
Serem feridos a homens,
Pois toda mulher merece deitar
Num peito que carregue uma cicatriz. 

Gabriel Abreu 

constante sentimento


No caderninho procuro o texto que outro dia escrevi. Lembro-me, ele emocionava e falava à mais profunda face da alma. Expressava o que mal podia ser compreendido e aliviava o coração da dor de não saber o que sente. Ele consagrava a pequena página e pedia pra ser manifestado. Ele era um texto herói e seus versos salvavam. Mas não acho o textinho. 

Gabriel Abreu