Não há remédio àqueles que sofrem da peste da angustia
crônica. Da incerteza esporádica, da aflição companheira. A das visitas
ocasionais, nas quais entra sem bater e senta gorda ao coração com um sorriso arrogante
na cara. Sorriso de quem sabe ter submissos a si nós, os angustiados. Quando se
nasce assim acostuma-se com o tempo. A indecisão vira um vício, uma mania ociosa.
O sintoma é um só: o questionamento. De tudo. E sem ter como objetivo obter uma
resposta. É essa falta de rumo que nos assombra. Minto; não falta de rumo, mas
o excesso deles. Aí se enobrece o desespero. Todos os cálculos que antecedem
uma decisão tentando antecipar as suas conseqüências, todo o esforço para
evitar o arrependimento (porque para os que nesse caem, coitados, não há saída) e
ainda de novo a dúvida entre continuar no infortúnio medíocre ou se arriscar na
tentativa de uma guinada rumo à ventura. Ah!, a guinada. Vestida na pele de
cordeiro, na qual tantos se perdem. Olha aí outro medo. É a romaria nossa,
acostumados ao penar da sensação. Aos quais o violento sopro da realidade bate
mais gélido. A quem de supetão a vida exibe, sem juízo nem precedente, as consistentes
tetas, às quais não se tem reação e fica se pensando no que fazer. Há quem diga
“as agarre!”. Eu diria também. Viveríamos num bacanal caótico, “sem guerra e
sem glória”, animais felizes, como Deus criou. Mas o que o humano uniu, o homem
não separa. E assim se segue, procurando algo ou alguém temporário que aquiete o
espírito em meio a essa moral de rebanho, onde morrem e nascem os
trabalhadores, os artistas e as putas.