domingo, 7 de fevereiro de 2010

T. C. O., 5º da série

Divago hoje sobre as desilusões. Sejam elas as piores, ou mais suportáveis, as mais banais, ou as mais marcantes. Afirmo, pois, que desilusão boa não existe. E que as piores são justamente as mais banais. Menos dói ser deixado por um grande amor do que observar que o trajeto da sacola plástica flutuante não correspondeu às expectativas. Há, de certo modo, um grande preparo para as grandes desilusões, o que torna grande as pequenas. Fim de semana importante, grande festa ao ar livre agendada, e chuva. Todos sempre tiveram consciência dessa possibilidade. Todos ficam desiludidos por fora, reclamam, xingam, lamentam, mas por dentro há total conforto. Relacionamento importante, grande festa ao ar livre agendada, e fim. Ambos sempre tiveram consciência dessa possibilidade. Ambos ficam desiludidos por fora, reclamam, xingam, lamentam, (ou pelo menos um, o outro fica desiludido por baixo da pele) mas por dentro (lá dentro) há total conforto.

Não se valoriza as situações cotidianas! Computador importante, grande carregamento de página agendado, e demora. Todos sempre tiveram consciência dessa possibilidade, mas não aqueles que a isso não estão acostumados. Nestes a ferida é maior do que aquela do fim de semana, do relacionamento. Costume é a chave. O costume nos cria ilusões que ao serem desfeitas, desfazem parte da alma.

Já pude pensar que personalidades são determinadas por grandes acontecimentos. Percebo hoje que estes apenas despersonalizam aquilo que o cotidiano teve o trabalho de personalizar. A rotina faz o ser humano. Aquilo que dela se exclui, o desfaz. A rotina desgasta o ser humano. Aquilo que dela se exclui, o gasta. Uma quebra inesperada da rotina determinante, acaba por indeterminar. Exatamente aquilo que a não-rotina é encarregada de fazer. Ela, por sua vez, quando outros rumos toma, acaba por determinar.

As grandes desilusões nos põe nos eixos, deveríamos agradecer, não lamentar. Mas sim lamentar pela mensagem não recebida, pela partitura que cai no chão, pelo desafino. E o coração que bate nestes peitos, que continue, como sempre, a rotinar as não-rotinas, a transformar em pequenas as grandes desilusões, a rotiná-las e finalmente tornar insuportável a sensação de não tê-las.

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