“Lá nos vem Gabriel de novo encher o saco com papo da universidade”.
Nota aos possíveis leitores integrantes do corpo docente da ESB: de maneira alguma, por vangloriar os professores da universidade, desmereço vocês. Muito pelo contrário, se hoje entendo o que eles dizem e me apaixono pelas novas disciplinas é somente pela formação que vocês a mim proporcionaram e pelo cidadão que durante anos ajudaram, desempenhando um papel crucial, a construir.
Não imaginava a carga de influência que a faculdade tem sobre o nosso intelecto. Com a maior facilidade do mundo os professores moldam nossa opinião, nossa visão. Há quem diga que aqueles que lecionam no ensino superior muitas vezes são arrogantes. Não os julgo. Acho até que merecem sim o serem. Espero eu um dia também poder o ser. Contemplo com admiração seu conhecimento, sua eloqüência, seu gosto pela ciência e sua ânsia pela sabedoria. Justo hoje, na aula de filosofia, na qual descobri um novo hobby, questionávamos (única coisa que fazemos) sobre as Meditações Metafísicas de Decartes. Não desviei o olhar uma só vez enquanto lia o argumento do sonho do autor. Ali estavam, escritas há 400 anos, as mesmas indagações que hoje afligem a sociedade moderna – se não a ela pelo menos a mim, e duramente. Sentado ali, em um prédio no centro de uma grande cidade, de uma grande metrópole, de um país emergente/emergido visualizei René, há mais de quatro séculos, relativizando, da mesma forma que eu freqüentemente faço quando espero o sono na cama, a realidade. Vi o filósofo francês botar no papel seus pensamentos que centenas de anos depois ainda servem de enredo para produções hollywoodianas multimilionárias como a trilogia Matrix ou o recente sucesso A Origem. Afinal, o que é real? Quem é que pode nos garantir que tudo isso que vivemos não é apenas um sonho, uma ilusão? Não parece no mínimo insuficiente nos basearmos apenas nas concepções dos nossos sentidos para definir a Verdade?
É toda essa incerteza, e muitas outras mais que os diversos filósofos lidos propõem, que engrossam ainda mais a minha indecisão sobre o que fazer da vida. Antes de nos perguntarmos sobre o sentido dela não devemos decidir o que com ela fazer? Sempre nos perguntamos o que faríamos se um gênio aparecesse e nos concedesse um pedido. A indecisão frente a essa questão é certa. Mas não precisamos esperar pela figura mítica. Qual outro senão esse é o principal grifo da existência humana? Você pode ser qualquer coisa, é só desejar, e se esforçar, que o desejo se realiza (soa de fato muito ingênuo, eu sei, mas é verdade). Daí aquele maldito gênio personifica-se na vida. Uma Decisão que tem de ser tomada cuidadosamente, afinal, frente a essa oportunidade não se pode dar chance ao desperdício. O medo de fazer a escolha errada é assustadoramente frustrante. E o conselho sempre é “você é muito jovem ainda, fazer a escolha errada não é um problema, contanto que assim que se perceba o erro tente-se consertá-lo”. E o pior é que isso faz sentido. Mas mesmo assim, toda essa calma de uma cidadã já profissionalmente realizada (minha mãe, no caso) é quase inaudível para nós prestes a saltar em queda livre do avião. Ela já saltou, já viveu a experiência e pousou em segurança. Mas quem garante que a minha cordinha não vai falhar?
O medo agora é de não poder se chegar à ilha que sempre se sonhou alcançar. Corro hoje nas areias ardentes de minhas angústias procurando o melhor caminho pra me jogar num mar revolto e inconstante. Tudo visando à ilha. Paradisíaca. Apogeu da satisfação. Aquela à que tantos já chegaram, mas a que tantos outros já se afogaram tentando atingir. Espero saber nadar. Espero não faltar-me o fôlego, não surgirem-me câimbras. Estou cansado de esperar (já?!). A veleidade é de se deixar boiar... Deixar a maré levar... À deriva...