quinta-feira, 31 de março de 2011

À Deriva

“Lá nos vem Gabriel de novo encher o saco com papo da universidade”.


Nota aos possíveis leitores integrantes do corpo docente da ESB: de maneira alguma, por vangloriar os professores da universidade, desmereço vocês. Muito pelo contrário, se hoje entendo o que eles dizem e me apaixono pelas novas disciplinas é somente pela formação que vocês a mim proporcionaram e pelo cidadão que durante anos ajudaram, desempenhando um papel crucial, a construir.


Não imaginava a carga de influência que a faculdade tem sobre o nosso intelecto. Com a maior facilidade do mundo os professores moldam nossa opinião, nossa visão. Há quem diga que aqueles que lecionam no ensino superior muitas vezes são arrogantes. Não os julgo. Acho até que merecem sim o serem. Espero eu um dia também poder o ser. Contemplo com admiração seu conhecimento, sua eloqüência, seu gosto pela ciência e sua ânsia pela sabedoria. Justo hoje, na aula de filosofia, na qual descobri um novo hobby, questionávamos (única coisa que fazemos) sobre as Meditações Metafísicas de Decartes. Não desviei o olhar uma só vez enquanto lia o argumento do sonho do autor. Ali estavam, escritas há 400 anos, as mesmas indagações que hoje afligem a sociedade moderna – se não a ela pelo menos a mim, e duramente. Sentado ali, em um prédio no centro de uma grande cidade, de uma grande metrópole, de um país emergente/emergido visualizei René, há mais de quatro séculos, relativizando, da mesma forma que eu freqüentemente faço quando espero o sono na cama, a realidade. Vi o filósofo francês botar no papel seus pensamentos que centenas de anos depois ainda servem de enredo para produções hollywoodianas multimilionárias como a trilogia Matrix ou o recente sucesso A Origem. Afinal, o que é real? Quem é que pode nos garantir que tudo isso que vivemos não é apenas um sonho, uma ilusão? Não parece no mínimo insuficiente nos basearmos apenas nas concepções dos nossos sentidos para definir a Verdade?


É toda essa incerteza, e muitas outras mais que os diversos filósofos lidos propõem, que engrossam ainda mais a minha indecisão sobre o que fazer da vida. Antes de nos perguntarmos sobre o sentido dela não devemos decidir o que com ela fazer? Sempre nos perguntamos o que faríamos se um gênio aparecesse e nos concedesse um pedido. A indecisão frente a essa questão é certa. Mas não precisamos esperar pela figura mítica. Qual outro senão esse é o principal grifo da existência humana? Você pode ser qualquer coisa, é só desejar, e se esforçar, que o desejo se realiza (soa de fato muito ingênuo, eu sei, mas é verdade). Daí aquele maldito gênio personifica-se na vida. Uma Decisão que tem de ser tomada cuidadosamente, afinal, frente a essa oportunidade não se pode dar chance ao desperdício. O medo de fazer a escolha errada é assustadoramente frustrante. E o conselho sempre é “você é muito jovem ainda, fazer a escolha errada não é um problema, contanto que assim que se perceba o erro tente-se consertá-lo”. E o pior é que isso faz sentido. Mas mesmo assim, toda essa calma de uma cidadã já profissionalmente realizada (minha mãe, no caso) é quase inaudível para nós prestes a saltar em queda livre do avião. Ela já saltou, já viveu a experiência e pousou em segurança. Mas quem garante que a minha cordinha não vai falhar?


O medo agora é de não poder se chegar à ilha que sempre se sonhou alcançar. Corro hoje nas areias ardentes de minhas angústias procurando o melhor caminho pra me jogar num mar revolto e inconstante. Tudo visando à ilha. Paradisíaca. Apogeu da satisfação. Aquela à que tantos já chegaram, mas a que tantos outros já se afogaram tentando atingir. Espero saber nadar. Espero não faltar-me o fôlego, não surgirem-me câimbras. Estou cansado de esperar (já?!). A veleidade é de se deixar boiar... Deixar a maré levar... À deriva...

15 comentários:

Anônimo disse...

PE, você está se superando, seu texto ganha qualidade a cada postagem.Não só qualidade mas profundidade na análise...Muito bom ler mesmo...
Jamais me sentiria desprestigiada por você estar se sentindo tocado pela vida universitária...Isso é muito bom mesmo...
Quanto às suas inquietações ( ou as de René .Aahahah), elas s ão essenciais... Por isso perduram...Somos intrinsecamente os mesmos ao longo das eras...Somos humanos...
Beijos, D. Fátima

Gabriel Abreu disse...

haha..que bom que vc gostou de fat!! pois eh, acho q essas duvidas fazem parte do processo =/..mas bem q podíamos não ter que passar por elas..haha

Caio Neves disse...

caraca, cara, desisto. serio mesmo, se vc quiser o blog só pra vc pode me expulsar que eu faço outro.

sacanagem po, ficou esse tempo todo só de zoação ai do nada resolve escrever um texto de verdade.

ja saquei qual era a tua, esperou eu fazer um textinho mais ou menos pra ai me humilhar de uma vez só ne, teeendi. canalha.

o meu único consolo nisso tudo é que eu sei usar crase.

Gabriel Abreu disse...

hahaha

não sei se me sinto lisonjeado ou ofendido..brigado pelo elogio, q bom q vc gostou =D ...mas quer dizer q todos os meus anteriores foram ruins?? haha..e onde que eu errei na crase??

Caio Neves disse...

nao, só quer dizer que esse foi muito melhor que todos os outros.
à qual ou a que, à que nao existe.

Gabriel Abreu disse...

ah bem, entendi..tens razão..já está corrigido, seu gramático maníaco..=)

Anônimo disse...

Papo de nerd...
Vivi

carolina luisa disse...

Gabriel
I think your doc is super!Essas duvidas acontecem em varias etapas da vida, sempre quando nossas vidas mudam de rota e meridiano. Step foward!!! But when you turn 80years old (like your grandfather), you will be able to balance life with kwonolege and justice, and I'm sure you are ready to find your path, and in the end ALL WE NEED IS LOVE!!!(Like those british boys said a long time ago)!Love Caco!

Amanda Abreu disse...

Nossa,sem palavras. Você melhora a cada texto. Você expressou perfeitamente a angustia de alcançar ou não o sucesso profissional. Me tocou esse texto.
Muito bom
bjus

Unknown disse...

Parabens Gabriel , que Voce seja exemplo para os amigos mais jovens da ESB

Gabriel Abreu disse...

Obrigado gente..que bom que vcs gostaram!! continuem lendo o blog!! haha

Vitor Monteiro disse...

Rapaz,...genial!

Anônimo disse...

perder o tempo pensando nesses baguio ai... as coisas são como são, se nada vai mudar, rodse! vo trolla essa bagaça

Unknown disse...

Rapaz, vc me surpreendeu. Normalmente o início da faculdade é cheio só da parte do deslumbramento, essas inquietações só vem no fim. As vezes eu acho que a vida vai ficando mais monótona com o passar dos anos, porque tudo q a gente vê são as histórias se repetindo. Eu vivo falando pro Caio q já já ele vai me dar razão em tudo, hahaha..pq eu já vi isso. Só vai se preparando pra época de se formar, onde todos passam por uma crise: "Será q eu fiz a escolha certa? Acho que vou trocar de vida, outra facu, alugar cadeira de praia". Mas é gostoso ver vcs nessa empolgação, pq lembra os coroas de como foi qnd eu era calouro e estava todo deslumbradinho com a facu, hehhe...Aproveitem que essa é a melhor época da vida!!!

Gabriel Abreu disse...

valeu Ramon!! haha..pois eh, espero q nao piore como vc ta dizendo aí..haha..n entendo pq q a gente gasta nossa vida inteira com a incerteza..é tudo tão instável..q merda..haha
abs