sexta-feira, 13 de maio de 2011

Ensaio sobre o Prozac


“Essa animalização do homem em bicho-anão de direitos e exigências iguais é possível, não há dúvida! Quem já refletiu nessa possibilidade até o fim conhece um nojo a mais que os outros homens – e também, talvez, uma nova tarefa!”.


Friedrich Nietzsche (1844-1900)




Desculpem-nos pela seca, mas escrever pra mim é uma arte. Não se faz nas coxas, apenas pela necessidade de se fazê-la. É preciso inspiração, informação, vocabulário. E depois de isso tudo ainda é necessário um impulso, um incentivo, um estímulo quase que nervoso. O meu hoje foi o filme O Casamento do Meu Melhor Amigo. Angustia-me ver o blog assim, vivendo das carcaças de textos passados. Há dias queria postar algo, e minha aula de filosofia é a fonte, me enchendo de idéias e dúvidas. Já obtinha a essência, faltava-me o corpo. Até que assisti os 100 minutos de Julia Roberts como Julianne Potter. Ver os atos desesperados praticados por ela por receio de perder a chance de se casar com o homem de seus sonhos, chance a qual se mostrou diversas outras vezes, mas que nunca fora aproveitada; me fez pensar sobre o quão necessário é para nós que alcancemos nossa concepção de felicidade. Pois digo logo, para mim, essa concepção, na maioria das vezes, seja lá qual for ela, está errada. Esforçar-se para achar felicidade já apresenta um paradoxo. O que é estar “em busca da felicidade”? O sentido da vida? Uma perda de tempo? Chegando agora ao fim do semestre tive a oportunidade de estudar Friedrich Nietzsche e de nele encontrar o filósofo com que eu mais me identifico. É exatamente sua questão do “último homem VS. super-homem” que tento exemplificar aqui. No final do filme, Jules recebe a lição do amigo: “What the hell? Life goes on. Maybe there won't be marriage. Maybe there won't be sex. But by God, there will be dancing!”. E a partir desse momento ambos saem dançando e desconstruindo o paradigma do pavor de viver uma vida coadjuvante. Concentramo-nos tanto em obter sucesso em todos os aspectos e a todas as custas que não percebemos que sucesso é viver a vida como ela é. É como diz o alemão: errado é tentar entender a Verdade para lastrear uma conduta de vida. A Verdade que tanto buscamos é uma invenção nossa, um anestésico que mascara nossa incapacidade de aceitar que o único e exclusivo sentido da vida é vivê-la. E que só assim ela faz sentido. Vou ainda em sua aba quando ele dá o exemplo de Deus: o que virou ele afinal senão o fetiche da realização de nossos próprios desejos? Acreditamos, pois nos forçamos a isso, por medo de não o fazer. Moralizamos essa figura divina dando a ela uma conotação utópica para dela nos aproveitarmos como ferramenta de alcance de interesses próprios. Deus tornou-se um antidepressivo. É como já dizem alguns títulos criativos “Mais Platão, Menos Prozac!”. É essa, hoje em dia, a principal rota de fuga da clareira que Nietzsche abriu: nada melhor que um comprimido de Lexotan ou uma dose de ‘branquinha’ para matar a aflição de não saber o que fazer com a vida. Ora, não faça nada! Não se deve fazer algo COM ela, mas sim DELA. Chegamos a tal grau de niilismo e superfluidade que inventamos as mais diversas válvulas de escape do questionamento do nosso papel nesse mundo. Não temos papel nenhum! Essa ‘moral de rebanho’ em que vivemos é inútil, serve apenas para nos impedir de vivermos do nosso jeito, apropriado e conveniente a cada um de nós, exclusiva e unicamente, completamente livre de preconceitos, censura, desaprovação, dominação, falso pudor, e todas as outras ‘virtudes’ que adquirimos com o desenrolar dos séculos. Paremos de nos inquietar tanto com a definição da razão de nossa existência. Façamos o que queremos: tenhamos amigos, amemos, falemos bobagens, andemos descalços, experimentemos tudo, burlemos as leis (escondidos), sejamos cafonas como estou sendo agora... O crucial é, como diz o filósofo baiano Sir Caetano, saber a dor e a delícia de ser o que é. No mínimo, tenho certeza, there will be dancing.


6 comentários:

Carla disse...

ameeeeeeeeeeei muito amor, ficou muito muito legal! voce pode nao ser um romantico nato, mas escritor é sim, com certeza! hahaha.. te amo, bjbj.

Caio Neves disse...

to cansado cara, pega leve. vc e o seu rebuscamento sobre o qual ja discutimos. mais um pouco e eu paro no meio. hahahahahahahah

Anônimo disse...

PE, tiro o chapéu para você! Texto perfeito do começo ao fim.As citações , as interações entre elas, trata-se da construção de um raciocínio maduro, informado, metalinguístico...Mostra um domínio da linguagem impressionante! Parabéns!
Tente ler O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA de Nietzsche , eu adoro...Fica a sugestão.
Beijos, Dona Fátima

Amanda Abreu disse...

Esta ótimo Biel!!
Muito bom mesmo adorei!
bjokas

juliana disse...

po gabs, sempre que estou num paradigma, vc vem e posta alguma coisa aliviante, parecida.. tava mt aflita esses dias, com complexo de perfeccionismo! ate pq: ser boa aluna, boa, filha, boa namorada, boa crista, boa cidada e - depois de tudo - estar bonita no fim do dia, CANSA! seu texto me ajudou mt, alem disso, estava mt bem escrito! sou apaixonada por esse filme, moral incrivel! continue assim, grande beijo

Bebel disse...

Muito bom esse texto! Melhor ainda ler ele depois das aulas do Edgard e conseguir me identificar com cada coisa que vc escreveu!!! Precisamos de mais amor fati, amor ao destino, a verdadeira grandeza é não querer nem o passado nem o futuro de maneira diferente do que eles realmente são! Parabens gabs!!!!!