Pobre Caio, não conseguia mais escrever. Tinha a caneta e
o papel, mas faltava-lhe a força nos dedos. No mundo a coisa que lhe dava mais
prazer era agora aquilo do que justamente era privado: o prazer da manifestação.
Um pequeno refúgio dos homens no qual não era mais gado. Não era enganado e
contava a verdade aos outros. Onde o despudor era palpável. Onde o poder era entusiasmo,
com que se fazia prodígio. Onde a excitação, que por mais que presente apenas no
ato, era o alicerce de sua alegria e o gergelim de seu próprio ente. Mas tão
simplesmente assim, escapara-lhe o dom. Deixara escapar. Extraviara o rosto
debaixo da maquiagem que dava o cunho à atuação. Sentia-se agora humilhado, com vergonha de si
mesmo. Tornou-se ordinário e rotineiro. Covarde que era, prestava ao trabalho e
aos querentes, preso na ignorância do Mundo, ciente de que o mundo na verdade não tem
nome. Mas não de propósito, era apenas um coitado mudo. Às vezes ainda
jogava-se ao mar e, sem atentar à sujeira, mergulhava fundo a cabeça na água. Ali
ainda conseguia uns longos resquícios do que sentia falta. Na superfície do
corpo uma indolência forçada. Era os restos apáticos de um rapaz feliz, boiando
sozinho. Percebendo pelo dentro das ondas a pulsão criativa da natureza. Até
que era obrigado a outra vez buscar no exterior o fôlego que não encontrava
mais dentro de si.
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