Num domingo público, Marcos sentou num banco chuvoso da General
Osório. A praça estava vazia, eram Marcos, uns poucos mendigos e umas pombas gordas. Ele
desenterrou um cigarro do decote e o acendeu com um dos fósforos da caixinha que
trazia na minúscula bolsa dourada. Mal chagara às cinco da manhã, e já não era
mais Odara. Odara havia ficado na noite, onde ele sempre a encontrava, deleitada no direito da imaginação, desnorteando a realidade. Agora
restavam-lhe apenas o forte batom borrado que lhe irritava os lábios, a vulgar
meia-calça rasgada há tempos, um orgulho pouco e o gênero que carregara a vida
inteira. Marcos já sacava o segundo cigarro quando percebeu uma
mulher indo trabalhar. Levava uma sobrinha e uma mochila pendurada nas costas. Vestia roupas
simples, e apesar dos culotes salientes e dos seios pequenos era uma moça
bonita, de cabelos fartos e feminilidade importante. Marcos pousara sem
perceber as corajosas mãos nos peitos caros. Brotou-lhe então dos olhos desbotados,
que ainda fitavam a moça, uma lágrima carente. Uma pétala de vontade que exibia aos pedintes e aos pássaros
um estranho evidente, um desorganizado sentado na garoa de Ipanema que havia
sempre na vida procurado a ausência do poder que lhe era justamente muito presente. Quando a
menina sumiu numa esquina, Marcos enxugou como um homem a gota do rosto maquiado, empréstimo de Odara, e se
levantou do banco, acendendo por fim o terceiro cigarro. Bruta
flor do querer, de expediente terminado, foi pra casa cambaleando sobre os saltos finos.
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