Enquanto
ele respirava o rosto dela subia e descia com a oscilação do peito largo em que
deitava. Aquele leito bruto era o descanso mais seguro que poderia encontrar em
todo mundo. Aquela pele quente, aquele cheiro conhecido. Seus longos cabelos
negros escoriam pelo ombro forte dele, seus braços descansavam na cintura
morena enquanto as mãos femininas se arrastavam pelo abdômen que sorria, as quatro pernas enroscadas entre si, as intimidades se espiando. Ela sabia que se dali nunca mais saísse
seria feliz para sempre. Isso seria possível. Ela se nutriria da áspera tez
dourada, se sustentaria da respiração descansada tão característica que ele
tinha, se agarraria naquele tronco sossegado de carinho e amaria eternamente o
homem que a fez mulher como nunca o foi. Disso ele sabia também. Sabia que
aquela era sua única aquela que poderia lhe fazer satisfeito. Sua sede de tudo
na vida adormecia nos seios sinceros daquela mulher. Ele olhava para os seus
olhos cor e cheiro de castanhas. Fitava o nariz desajeitado, lar da pintinha
escura pela qual se apaixonara. Mirava a boca em que se perdia e suplicava nunca
mais se achar. Desejava-lhe de corpo, de alma, e de mais do que todo o possível resto. Amavam-se juntos, depois um ao outro e por fim a si mesmos.
Eles continuaram
os dois na inércia da cama sem respirar. Até que ficaram sem fôlego, e
nada nunca mais foi o mesmo.
Gabriel Abreu
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