sexta-feira, 3 de agosto de 2012

do amoroso lençol


Enquanto ele respirava o rosto dela subia e descia com a oscilação do peito largo em que deitava. Aquele leito bruto era o descanso mais seguro que poderia encontrar em todo mundo. Aquela pele quente, aquele cheiro conhecido. Seus longos cabelos negros escoriam pelo ombro forte dele, seus braços descansavam na cintura morena enquanto as mãos femininas se arrastavam pelo abdômen que sorria, as quatro pernas enroscadas entre si, as intimidades se espiando. Ela sabia que se dali nunca mais saísse seria feliz para sempre. Isso seria possível. Ela se nutriria da áspera tez dourada, se sustentaria da respiração descansada tão característica que ele tinha, se agarraria naquele tronco sossegado de carinho e amaria eternamente o homem que a fez mulher como nunca o foi. Disso ele sabia também. Sabia que aquela era sua única aquela que poderia lhe fazer satisfeito. Sua sede de tudo na vida adormecia nos seios sinceros daquela mulher. Ele olhava para os seus olhos cor e cheiro de castanhas. Fitava o nariz desajeitado, lar da pintinha escura pela qual se apaixonara. Mirava a boca em que se perdia e suplicava nunca mais se achar. Desejava-lhe de corpo, de alma, e de mais do que todo o possível  resto. Amavam-se juntos, depois um ao outro e por fim a si mesmos. 

Eles continuaram os dois na inércia da cama sem respirar. Até que ficaram sem fôlego, e nada nunca mais foi o mesmo.  

Gabriel Abreu


Nenhum comentário: