As palavras
estão por todos os lugares. São exibidas. Estão no silêncio do lago, de água
verde e misteriosa. Estão no píer imóvel e solitário, que à noite não serve
ninguém. Estão no cheiro do gim carregado pela brisa da noite. Estão nos ruídos
dos jovens ao longe que acreditam existir sozinhos. Estão no cisne que desliza à
margem, enroscado na própria melancolia. “Escreva-me! Escreva-me” – grita o
cisne. Estão nas boias que não desistem na batalha da física, e nos barcos que
dançam por obrigação amarrados uns aos outros na marola da madrugada. E em seus longos mastros, que
junto das velas recolhidas formam ângulos no céu sem estrelas. Ângulos que me
fazem tão, tão triste. Choro pelos ângulos, e até em minhas lágrimas estão as
palavras. Citando a ardência do rosto, a permeabilidade da pele, a
hidrodinâmica da gota. Tantas palavras pra tudo mas nenhuma pra mim. Sou como
um dicionário que acha definição para tudo, mas que ao querer dar razão a si mesmo
não encontra nada além da irônica e inútil metalinguagem.
Gabriel Abreu
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