quinta-feira, 26 de setembro de 2013

não há palavras


As palavras estão por todos os lugares. São exibidas. Estão no silêncio do lago, de água verde e misteriosa. Estão no píer imóvel e solitário, que à noite não serve ninguém. Estão no cheiro do gim carregado pela brisa da noite. Estão nos ruídos dos jovens ao longe que acreditam existir sozinhos. Estão no cisne que desliza à margem, enroscado na própria melancolia. “Escreva-me! Escreva-me” – grita o cisne. Estão nas boias que não desistem na batalha da física, e nos barcos que dançam por obrigação amarrados uns aos outros na marola da madrugada. E em seus longos mastros, que junto das velas recolhidas formam ângulos no céu sem estrelas. Ângulos que me fazem tão, tão triste. Choro pelos ângulos, e até em minhas lágrimas estão as palavras. Citando a ardência do rosto, a permeabilidade da pele, a hidrodinâmica da gota. Tantas palavras pra tudo mas nenhuma pra mim. Sou como um dicionário que acha definição para tudo, mas que ao querer dar razão a si mesmo não encontra nada além da irônica e inútil metalinguagem. 

Gabriel Abreu

Nenhum comentário: