Outros agora vêm viver aquilo que
uma vez já foi novo para mim. Conheço as suas incertezas, conheço os seus
estranhos. Afligiram-me igualmente.
Senti o sopro do medo que agora os persegue, a pressa da excitação que agora
os afoba. Já mirei a profundeza do abismo em que se salta ao desconhecido.
Também já uma vez saltei como hoje eles saltam, sem garantias. Mas aquela era a
hora que eu havia esperado por longo tempo e aquele era meu salto, meu destino.
Destino que agora é vivido por outros. Vivem minha vida sem mesmo pedir
licença. Vão vivendo sem permissão. É só então que percebo: aquela não é minha
vida e também não é a deles. Aquela é apenas a ordem natural das pessoas. Perco
o ar e me entristeço profundamente. No meio de tanta gente já não tenho mais
lugar. O que pareceu ser minha história é agora a vez de outro. Esses terão
também seu lugar tomado, mas isso agora ainda não sabem e não calha saber.
Agora é o seu momento. Na cegueira de tanta gente eu fico abandonado de olhos abertos.
Mas na multidão alienada ainda vejo alguns cujo sentimento finalmente entendo.
Atrás dos heróis que nunca serão tão jovens como hoje seguem seus pais.
Incessantes e orgulhosos, todos trazem consigo, finalmente vejo, um aperto no
coração. Vencidos pela tal ordem da vida deixam seus filhos sozinhos pela
primeira vez numa cerimônia despercebida. Não há tempo a se notar a alegria
melancólica nos olhos daqueles que hoje cumpriram uma missão. Há muito a se
viver e ninguém olha para trás. Mas saibam, pais de pais, que um dia todos
percebemos que a ordem da vida é linda, mas por vezes muito triste. Hoje para
mim foi mais um primeiro dia que tantos outros também viverão. O dia em que me
dei conta de que todos dividimos destinos e descobertas, mas que nossos pais
serão sempre só nossos.
Gabriel
Abreu
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