Entrando no metro hoje me dei conta
do quão grave de fato é o fenômeno que muitas vezes é discutido, mas cuja
importância também muitas vezes é relevada: o uso incessante de aparelhos
eletrônicos por jovens. Do menino entrando na puberdade à moça quase saindo da
adolescência, todos ali carregavam seus celulares, dando total e exclusiva
atenção às suas telinhas brilhantes. A grande maioria possui um smartphone, que oferece todos os
serviços em um único aparelho e assim poupa seu usuário do desperdício de tempo
que seria pôr um dispositivo no bolso e pegar o outro em seguida. O vício não é
particular a uma só classe social, etnia ou qualquer outra possível
classificação: todos tinham seu veneninho particular. Eu inclusive! Já dependo
tanto do meu iPhone que se tenho de esperar qualquer instante que seja por
qualquer ação (a chegada da minha parada do metro, por exemplo) não penso duas
vezes antes de buscar a infalível companhia que vai sempre comigo seja aonde eu
for. É essa dependência que chamo de “fobia do ócio”.
Perceba que nós jovens da atual
geração não nos tornamos menos sociais como gostam de proclamar
“especialistas”. Ainda gostamos de nos relacionar, de conversar, conhecer novas
pessoas; as redes sociais não tiraram de nós a capacidade de ter uma troca real
ou de saber nos expressar propriamente. O que acontece, pelo contrário, é a
intensificação ao máximo da socialização devido à facilitação desta por meio de
todos os infinitos e onipresentes canais de comunicação dos quais são munidos
todos os jovens. A presença desses meios
em nossas vidas já está tão incrustrada em nossa cultura (e quando digo nossa
eu quero dizer nossa enquanto seres humanos, não particular a nenhum grupo
específico, pois, como todos sabemos, o fenômeno é global) que não reconhecemos
a necessidade urgente de pôr essa já aceitada premissa em dúvida e discussão. O
problema, custamos em perceber, não está no fato de que usamos o Facebook para encontrar e nos conectar
com novos e antigos amigos, que acessamos o WhatsApp
pra conversarmos com qualquer pessoa mais ainda do que por uma ligação (lembra
da ligação?) ou ainda que abrimos o aplicativo do Instagram sempre que queremos anunciar a todos onde estamos ou o
que estamos fazendo. O problema está no fato de não nos sentirmos confortáveis
o suficiente em momentos de tédio (ou apenas de espera, como hoje no meu caso
no metro) ao ponto de termos que recorrer constantemente a esses utensílios pra
ocupar-nos e evitarmos aquilo do que mais temos medo: não fazer nada.
Há muito tempo a ciência vem se
esforçando pra dar a todas as pessoas mais e mais praticidade pra que possamos
evitar cada vez mais a perda de tempo. Do que não nos damos em conta, porém, é
que do tempo que cada dia mais evitamos perder fazemos justamente aquilo que
mais evitamos: perdemo-lo. Pondo o meu celular de volta no bolso da jaqueta eu
posso perceber exemplos vivos dessa pandemia da qual hoje somos vítimas. Mas
não apenas isso. Eu posso também perceber as outras pessoas ao meu redor, meus
semelhantes que normalmente são desdenhados frente a atratividade de uma tela
de cinco polegadas. Deixamos todos os dias de presenciar reproduções genuínas
das emoções humanas: a angústia, o medo, a paixão, a indiferença, a alegria e o
próprio tédio, todos ali estampados diariamente nos diferentes rostos que
seguem no mesmo vagão rumo a seus lares.
As gerações que cresceram junto à
toda essa parafernália e que são donas das primeiras contas de usuário nas
diversas redes sociais chegam agora aos poucos a sua maturidade e começam, um a
um, a gerar novas vidas e, por consequência, futuro novos usuários. Nossos pais
ainda desconhecem, pelo menos em comparação a nós e não levando em conta as
devidas exceções, toda essa tecnologia. Portanto, se nos tornamos quem hoje
somos foi por mérito unicamente nosso, somos cria dessa tecnologia e fomentamos
essa insana dependência independentemente. Ora pensemos agora em nosso filhos e
no exemplo que a eles daremos. E lembremo-nos que mesmo que essa febre não
precise de nenhum pai ou mãe pra viciar uma criança, educação começa em casa. Talvez
a mudança seja pra nós muito radical, uma transformação drástica demais em
hábitos já definidos. Mas é de nós que deve vir a iniciativa se não quisermos
viver em um mundo onde não mais exista “dolce far niente”.
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